Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas – TO

Agosto é o mês vocacional. E uma das vocações contempladas, neste mês, é a vocação do padre. Todos nós sabemos que a palavra “padre” significa: “pai”. Não foi nenhum Concílio que definiu o padre com esta missão, mas foi o carinho, o capricho e o amor das comunidades eclesiais que chamou o sacerdote de pai. Uma verdadeira profecia, pois, de fato o é. Uma merecida homenagem para quem tem a missão de gerar filhos para Deus.

Há um manuscrito medieval, de autor desconhecido, denominado de “Retrato do Padre” que diz, textualmente: “um padre deve ser, ao mesmo tempo, pequeno e grande, de espírito nobre, com sangue real, simples e espontâneo como um lavrador, um herói no domínio de si, um homem que lutou com Deus, uma fonte de santificação, um pecador que Deus perdoou, senhor de seus desejos, um servidor humilde para os tímidos e fracos, que não se rebaixa diante dos poderosos mas se curva diante dos pobres; discípulo de seu Senhor, chefe de seu rebanho; um mendigo de mãos largamente abertas, um portador de inúmeros dons, um homem no campo de batalha; uma mãe para confortar os doentes, com a sabedoria da idade e a confiança de um menino; voltado para o alto, os pés na terra… feito para a alegria, experimentado no sofrimento, imune a toda inveja, que se vê longe… que fala com franqueza, um inimigo da preguiça, uma pessoa que se mantém sempre fiel”.

Além do bem traçado retrato do padre, na figura de um pai, o autor o retrata também na figura de uma mãe. Deus escolhe um homem para se tornar padre para que ele se torne pai de uma multidão como as areias do mar e as estrelas do céu. O padre todo dia gera, no seu coração, amor, alegria e paz nos corações dos fiéis. O padre gera cotidianamente uma pessoa nova, uma comunidade nova, uma paróquia nova, uma igreja nova, uma sociedade nova, um novo céu e uma nova terra.   Eu diria simplesmente: “o padre é um filho que se tornou pai” (Dom Caetano, bispo de Guarulhos – SP). Fiquei muito feliz quando li que o futuro arcebispo de Milão, a maior arquidiocese do mundo, é apresentado como um “padre normal”. Não por andar de bicicleta. Não foi por isto que ele foi escolhido. Mas por ser um pai. “Normal” é o mesmo que dizer: “segundo a norma”, “habitual”, “natural”. Não é pouco dizer que o padre é uma pessoa normal. É o muito que se pode dizer. Seria anormal se o padre não fosse um homem normal. O normal de um padre é ser pai. No entanto, fiquei muito triste e incomodado quando também li que alguns padres são os maiores obstáculos ao ministério do papa Francisco. Se o normal do padre é ser pai, o anormal é viver sem a atitude paternal-filial para com o santo padre, o papa, o nosso pai na fé.

A arte de ser pai, como todas as artes, não se somente aprende nos bancos de escolas. É um ato de educação. É a arte da aprendizagem. Como ninguém nasce falando, caminhando, cantando e rezando, mas chorando, a arte de ser pai se aprende exercendo esta magnificência capacidade que o Criador que deu ao ser humano, do sexo masculino, de gerar filhos e filhas: ser pai. O ato da ordenação não é um ato de esterilização, castração e infertilização. Embora não geramos filhos biológicos para o mundo, geramos filhos espirituais para Deus. Dizem os sábios e entendidos que o mundo está do jeito que está porque perdemos a capacidade de viver sob o Reinado de Deus Pai, no qual todos somos irmãos. Sem a paternidade não existe nem a filiação e nem a irmandade.

Quando fui falar com o meu pároco que iria entrar no Seminário, ele não me deu nenhum bem material, mas meu deu um conselho que guardo para o resto da minha vida: “quer ser padre? Então seja padre, somente padre e totalmente”. E este é o conselho final que dou a todos os padres.