Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André, SP

A Igreja Católica está no período de quaresma. As quaresmeiras floridas de roxo aqui na região, nos recordam a quaresma que nada tem a ver com as superstições a seu respeito, as quais ainda perduram. E a quarta feira de cinzas, que abre a quaresma não existe só como purificação das festas do carnaval, mas como sinal de boa vontade em ouvir a Palavra de Deus e praticá-la.

Quaresma são os quarenta dias que precedem a Páscoa: vitória de Jesus o Filho de Deus, sobre a morte. Jesus passou quarenta dias no deserto, orando, jejuando, enfrentando as forças misteriosas do mal e vencendo-as, antes de iniciar sua missão (Mt 4,1-11). A quaresma recorda este período, convidando a imitar Jesus na oração, no jejum, na penitência que ajudam a reorganizar nossa vida interior, reorientando-a para Deus, num processo que a Bíblia chama de conversão.

O termo conversão, pertence à tradição religiosa do judaísmo e cristianismo. Converter-se é afastar-se daquilo que toma o lugar de Deus em nosso coração (ídolos). É condição indispensável para entrar no dinamismo do Reino de Deus, é mudança de mentalidade e de conduta, é sair do pecado que nos torna inimigos de Deus.

O conceito de pecado é rejeitado pela sociedade hodierna, porém é realidade que aparece em todas as religiões e culturas com este ou outro nome. A existência do pecado é fruto de uma experiência pessoal e histórica do homem, sinalizado pelo sentimento de culpa que é um dado constante da psicologia humana.

O mal, o “mistério da iniquidade” (cf. 2Tas 2,7), presente na realidade ultrapassa qualquer explicação científica. Ele está aí, mesmo quando se nega sua existência, com seu rastro de violência, ódio, divisão, injustiça, causando grande infelicidade e destruição.

Na quaresma a Igreja nos oferece um tema de reflexão que possa nos conduzir à mudança, à conversão. A Campanha da Fraternidade deste ano (CF/2017), tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema: “Cultivar a criação” (Gn 2,15), chamando a atenção para a conservação da natureza, do meio ambiente. Os biomas são áreas especiais, onde a criação se desenvolve de modo particular e harmônico, como por exemplo a Mata Atlântica, a Caatinga, os Serrados, etc. O tema da Campanha e seu objetivo é levar-nos à refletir, despertando em nós o desejo de encontrar novas formas de relacionamento com a natureza.

Deus colocou o ser humano para cuidar da terra, ser o zelador e jardineiro do planeta, mas infelizmente não é isso que acontece. Em vez de realizar seu papel de  colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba de provocar a revolta da natureza, mais tiranizada que governada por ele.

Que a cor roxa da penitência quaresmal nos recorde o apelo do Senhor Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15), Evangelho que é salvação e vida para toda a humanidade e também para a natureza, obra das mãos de Deus.