O bispo de Parnaíba e presidente da Comissão Regional Nordeste 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Juarez Sousa da Silva, discorreu, de forma sistemática, sobre alguns pontos relacionados ao tema da 15ª Romaria da Terra e da Água no Piauí. O evento, realizado neste fim de semana, em Piripiri-PI, teve como tema ‘Terra e Água: Direitos Sagrados’ e lema ‘Deus deu a terra aos seus filhos’.
Inicialmente, Dom Juarez criticou o uso dos recursos naturais para fins comerciais e as restrições de acesso à terra e à água pelo mercado, impostas principalmente aos mais pobres:
A água e a terra viraram mercadoria e negócios lucrativos. A apropriação destes bens para fins mercadológicos não vem de Deus. Por que tanto orgulho? Por que tanta ganância? Deus criou a terra e água para todos e não para alguns. A poluição e a mercantilização da natureza integram a cultura da morte que ceifa milhares de vidas em todo mundo, disse.
Dom Juarez também falou sobre a fome, outro grave problema social que voltou a fazer parte da realidade de milhões de brasileiros. Atualmente, de acordo com relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 6,3 milhões de brasileiros enfrentam situação de insegurança alimentar:
O Brasil alimenta o mundo, mas não alimenta os brasileiros. O Agronegócio produz alimentos para 800 milhões de pessoas, segundo a Embrapa. A fome é um dos crimes mais graves contra a humanidade. Onde estão as iniciativas para erradicá-la do Brasil e do mundo? A nossa fé exige que enxerguemos esta vergonhosa situação. Não podemos ser cristãos dissimulados e fingir que o problema não existe, destacou.
Ainda em sua homilia, Dom Juarez fez críticas à intolerência política e religiosa, condenou os ataques à liberdade de expressão e a perseguição às minorias e enfatizou a necessidade de uma cultura de paz:
Em tempos de crise econômica e violência estimulada, muitos são os irmãos que precisam da nossa acolhida. Nossos dias têm sido marcados pela intolerância, por uma violenta cultura da eliminação do outro. Jornalistas, indigenistas, adversários políticos são perseguidos, agredidos, mortos. Ser diferente faz parte da beleza da criação divina. Esse tipo de situação não pode continuar porque contraria a vontade de Deus e o sonho de paz do povo brasileiro, ressaltou.
Na sequência, o bispo falou sobre o problema da má distribuição de renda e sua relação com os elevados índices de desigualdade social no Brasil, que tem como consequência direta o desemprego e a miséria:
O Brasil tem se transformado numa imensa arena de conflitos. Derrama-se o sangue de inocentes. Vigora a política do quanto pior melhor. Cresce cada vez mais o reduzido número de pessoas milionárias enquanto milhões padecem na miséria. Há um total desrespeito pela dignidade da pessoa humana. A economia não está à serviço da vida dos mais pobres, pelo contrário, ela está controlada por grandes grupos econômicos que não visam o bem comum nem o progresso integral do país, afirmou.
Outro ponto mencionado por Dom Juarez em sua mensagem foi a política de destruição ambiental e a falta de compromisso das autoridades e empresários na implementação de uma agenda sustentável:
As terras brasileiras sofrem com a devastação ambiental, especialmente no Norte do país. Os povos indígenas são brutalmente agredidos pelos grandes projetos, pelo garimpo e pesca ilegais. Cresce cada vez mais o número de pessoas que trabalham na defesa do meio ambiente. O Brasil é conhecido mundialmente como o país onde mais se mata pessoas que integram organizações não governamentais. É uma gravíssima injustiça que aumenta a cada dia. Reina a impunidade. Sofrem e a terra e os povos da terra.
Finalizando, Dom Juarez ressaltou o papel da Igreja na construção de uma sociedade melhor, exercendo seu papel social na família, na educação e nas políticas públicas e sugeriu que as romarias da terra e da água sejam espaços onde façam brotar a necessidade por justiça, paz e tolerância:
A Igreja insiste em anunciar a boa notícia do reino de Deus. No Evangelho, alicerçado no diálogo, na justiça, na caridade, na verdade, acreditamos que juntos podemos mudar o mundo, quando nos dispomos a somar forças em prol da justiça e da paz. Acreditamos num outro mundo que nasce nas belas inciativas que promove o direito e a justiça. O reino de Deus não nasce na força nem é projetado nos gabinetes dos poderosos deste mundo, mas nasce na força dos pequenos, dos frágeis, no cotidiano simples do povo que, ousadamente, cria e recria formas alternativas de sobrevivência. Condenamos toda forma de violência. Venceremos na força do amor porque este é o caminho ensinado por Jesus. O mal não há de triunfar porque se destrói por si mesmo. Nosso povo é forte porque acredita na força do Senhor. Deus é fiel porque ama os pobres e a igreja, advogada dos pobres, haverá sempre de permanecer ao lado dos que lutam, dos que acreditam que outro mundo é possível. A romaria veio para desabafar os gritos dos pobres da terra, para fazer esse grito ecoar forte aos ouvidos e coração dos governantes e dos que detêm o poder.